Vocês já devem ter ouvido falar no Movimento Slow, iniciado na Itália por um habitante local em protesto contra a abertura de uma franquia de grandes redes de fast food em Roma. A ideia de fazer as coisas de maneira lenta (lento, em inglês, pode ser traduzido por slow) se multiplicou e hoje existe Slow tudo: Slow Sex, Slow Beauty, Slow Books... E, independentemente de dar nomes em inglês ou não para as coisas, viver de maneira lenta é algo que me chamou muito a atenção quando entrei em contato com o conceito, há uns 8 anos atrás.
Esse pensamento engloba uma série de pontos importantes: respeitar os ciclos da natureza e da vida, respeitar o ritmo do dia-noite-dia e, consequentemente, valorizar o comércio local e os pequenos produtores. Uma vida mais lenta pede por integração entre as diferentes áreas da vida (estudo, trabalho, desenvolvimento pessoal, manutenção da vida, autocuidados, lazer) e por um equilíbrio entre indivíduo, território e comunidade. Isso significa que é preciso pisar no freio e reduzir o consumo caso você seja uma pessoa que dispõe de um bom nível de poder de compra, o que será diferente no caso de quem tem baixa renda. Se de um lado há excesso de consumo, do outro faltam condições básicas ou conforto. Se por uma via é preciso pisar no freio, por outra é preciso sonhar e ter espaço para conquistar. Só que para o sonho desse tomar lugar no mundo, é necessário que aquele que acelerou demais (no consumo) breque, ou a gente mata o planeta antes do final da pista.
Hoje em dia não precisamos pensar mais em que mundo queremos deixar para os netos, mas sim em que mundo queremos viver dentro de poucos anos. O crescimento desenfreado e separado da comunidade, da vida e da natureza leva à destruição e isso é dado. Todo mundo já sabe disso. A ciência sabe, as culturas orientais sabem, os povos originários das Américas sabem.
Porém, se você vive em uma grande cidade, por experiência própria, lhe digo que desacelerar não é fácil. Requer dizer não, exige pensar em si de maneira saudável e não egocêntrica, pede empatia pelo próximo e vontade de ter sabedoria. Carece buscar aquela boa alma velha de uma árvore bem grande e forte, que remete à figura das avós nos contos que giram pelo mundo.
Assim, se você quiser começar a desacelerar - e provavelmente você precisa - aqui vão algumas ações que certamente vão fazer parte desse processo.
Acordar, espreguiçar-se e respirar.
Não levante com correria. Se necessário, coloque o relógio para um pouco mais cedo (sem comprometer sua qualidade e tempo de sono) para poder acordar com calma, se espreguiçar como um animal que acabou de se levantar e respirar tranquilamente por alguns minutos.
Preparar mais refeições e desembalar menos alimentos
Alimentos industrializados geram mais lixo do que os preparados em casa, contêm substâncias nocivas à saúde e baixo valor nutritivo. Leva tempo preparar o próprio alimento e lavar toda a louça, mas é de longe o melhor hábito que uma vida mais lenta precisa ter.
Porém, cuidado! Isso não pode gerar abuso de trabalho doméstico! Se tem mais de uma pessoa na casa e todas vão comer ali, o trabalho de cozinhar e limpar precisa ser igualmente dividido por todo mundo, o que inclui homens. É preciso sempre lembrar que deixar todo o trabalho gerado pelo viver para as mulheres é machismo. Oferecer com amor aos demais também é uma ação importante para os homens. Reparta o trabalho de comprar, separar, lavar, preparar, finalizar, limpar e organizar, pois isso é essencial.
Usar menos cosméticos comprados prontos
Sabonete, xampu, creme de barbear, colônia, desodorante, maquiagem, esmalte, esfoliante, micro-esfoliante, removedor de maquiagem, removedor de esmalte... Será que a humanidade precisa de tudo isso? De fato, não precisamos.
E, pior, muitos desses cosméticos contêm substâncias nocivas à saúde e plásticos que vão parar nos oceanos. Então cabe pensar sobre quais desses itens são realmente indispensáveis e de quais a gente realmente sente que não pode abrir mão no momento. Vale a pena escolher os itens que são importantes para você, o que certamente já vai incluir muitos itens supérfluos. Retirar um de cada vez é um ganho e tanto e logo você vai perceber que a necessidade real é pequena, ou bem menor do que parecia.
Além disso, se você gosta de colocar a mão na massa, existem muitas formulações cosméticas simples de se fazer em casa.
Elas contemplam desodorantes, manteigas corporais, perfumes, óleos de massagem, entre outras. Na internet é possível encontrar muitas formulações, mas é bom ter cuidado. Leia e pesquise em fontes seguras antes de testar e escolha formulações simples para começar. Pode ser interessante, também, fazer um curso sobre o assunto.
Vou deixar aqui uma formulação de bálsamo corporal que criei e utilizo há bastante tempo.
Ingredientes:
duas colheres de sopa de manteiga de karité
três colheres de sopa de óleo vegetal de semente de uvas
opcional: 6 gotas de óleo essencial de lavanda
Derreta a manteiga em banho-maria e retire do calor. Acrescente o óleo vegetal e os óleos essenciais e misture.
Coloque em um recipiente de vidro previamente lavado com água, sabão e esponja. Você pode desinfetar com álcool 70º após a lavagem, mas só com muito cuidado, pois é altamente inflamável.
Deixe a mistura na embalagem de vidro no congelador por 30 minutos ou até que endureça. Depois, retire e deixe atingir a temperatura ambiente naturalmente.
Aplique na pele limpa com as mãos durante massagens.
Atenção: melhor não expor a pele ao sol por 12 horas após a aplicação. Gestantes, lactantes e pessoas em tratamento medicamentoso precisam consultar seus médicos com relação ao óleo essencial, que pode ter contraindicações de uso. Na dúvida, retire esse ingrediente.
Espero que essas ações iniciais puxem muitas outras ações na mesma linha!
Se você tem outras ideias para desacelerar, deixa nos comentários para a gente!
No link, matéria de 2018, do Senado Notícias, sobre divisão das tarefas domésticas no Brasil.
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